De 2000 a 2009, 1.321 pessoas morreram atingidas por raios no Brasil, segundo levantamento do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O estudo, inédito no país, aponta para a média de 132 mortes por ano.
Do total de mortes registradas pelo Elat, 81% foram de homens e 19% de mulheres. ?Os homens estão, em geral, mais expostos, praticam mais atividades ao ar livre do que as mulheres. As mulheres não atuam com tanta frequência na agricultura e construção civil, por exemplo. A mesma coisa acontece com relação à idade das vítimas. Há mais mortes na idade adulta, porque crianças e idosos ficam mais em casa, menos expostos?, disse Osmar Pinto Junior, coordenador do Elat/Inpe. A probabilidade de ser atingido por um raio quando jovem ou adulto é o dobro da de uma criança ou idoso, segundo o Inpe.
O levantamento aponta ainda que, nos últimos dez anos, o Sudeste foi a região onde mais pessoas morreram (29%), seguido pelo Centro-Oeste (19%), Norte (18%), Nordeste (18%) e Sul (17%). Se considerada a população de cada região, as chances de ser atingido por um raio são maiores no Centro-Oeste (22 em um milhão) e menores no Nordeste (5 em um milhão).
?Quando se fala em probabilidade de ser atingido por um raio, deve-se levar em consideração uma série de fatores combinados, entre eles a quantidade de raios que atinge cada região, a população residente na área, o grau de exposição das pessoas, se predominam atividades rurais ou urbanas, entre outras variáveis?, afirma o especialista. Pinto Junior explica que em áreas com grande incidência de raios, poucos moradores e predomínio de atividades econômicas a céu aberto, há maior probabilidade de ser atingido por um raio.
Em termos de Estados, a probabilidade mais alta de ser atingido por um raio é no Tocantins (46 em um milhão), seguida por Mato Grosso do Sul (43 em um milhão). As menores probabilidades de ser atingido por um raio estão nos Estados da Paraíba e Sergipe (um em um milhão), desconsiderando o Amapá, onde não houve registros de mortes. Em São Paulo, a probabilidade de ser atingido por um raio é de seis em um milhão. Em todo o país, a probabilidade é de oito em um milhão.
De acordo com o Elat, foram analisados dados do Inpe/Ministério da Ciência e Tecnologia, Departamento de Informações e Análise Epidemiológica (CGIAE) do Ministério da Saúde, Defesa Civil, e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Expostos aos raios
A maior parte das mortes causadas por raios, de acordo com a pesquisa, ocorre na zona rural (61%), contra 26% na zona urbana, 8% no litoral e 5% em rodovias. Considerando as populações urbana e rural em todo o país, a probabilidade de ser atingido no meio rural é dez vezes maior do que na zona urbana.
A circunstância mais comum associada à morte por raio é a atividade agropecuária (19%), seguida por atividades realizadas próximo a meios de transportes (14%), dentro de casa (14%), embaixo de árvores (12%) e em campos de futebol (10%).
Como se prevenir
Segundo Pinto Junior, ser atingido por um raio não é uma questão de sorte ou azar. Isso em pelo menos 90% dos casos. ?A principal conclusão da pesquisa é que 90% das mortes não foram fatalidade. Foram questões de falta de informação?,diz.
O lugar mais seguro para ficar em caso de raios é dentro de um objeto metálico fechado, como um carro ou avião. Permanecer do lado de fora desses veículos, encostado ou perto, é um dos maiores riscos. Um objeto metálico grande atrai raios, por isso é perigoso ficar perto deles. Entretanto, ficar dentro desses veículos é seguro porque os raios não conseguem penetrar a estrutura metálica, diz.
Se você está ao ar livre e nota indícios de tempestades (trovões e um vento gelado típico), pare e busque abrigo em um carro ou residência. Caso não seja possível, fique atento e evite ficar perto de água e de objetos altos e/ou metálicos ? árvores, tratores, postes, enxadas e pás, por exemplo.
Dentro de casa, onde ocorrem 15% das mortes, evite contato com tudo que envolve eletricidade. Não tome banho em chuveiros elétricos e saia de perto de geladeiras, tomadas, telefones com fio e até mesmo celulares ligados à rede pelo carregador durante as tempestades.
Origem dos raios
Estudos demonstram que o aquecimento global pode levar ao aumento na incidência de raios, em todo o mundo. É o calor que leva umidade do ar para a atmosfera, e esse calor dá origem às descargas elétricas. Por isso, de acordo com o Elat, 77% das mortes no Brasil, nos últimos dez anos, ocorreram no verão e na primavera, período do ano em que ocorrem cerca de 80% dos raios no país e quando o calor é mais intenso.
Para que tenhamos raios, precisamos de temperaturas altas e umidade, para formar nuvens. Portanto, quanto mais quente, mais raios, diz Pinto Junior.
Nos próximos seis meses, com o inverno, as temperaturas tendem a cair e os raios passam a ser mais raros. Até o início do inverno, no entanto, devemos ter bastante chuva, tempestade e raios,afirma.

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