A crise que só piora no reservatório de Sobradinho, na Bahia, liga o alerta para a situação da represa de Três Marias, também no Rio São Francisco, na Região Central de Minas. Com vazão de entrada de 60 metros cúbicos por segundo e saída mais que oito vezes maior (500m3/s), a preocupação de pessoas ligadas ao comitê de bacia e da própria Cemig, operadora da usina hidrelétrica, é o esvaziamento rápido do reservatório, que já exibe cenas desoladoras, típicas de um deserto. Atualmente, o lago está com 15,3% de seu volume útil. Caso não chova em novembro, a Cemig prevê nível de 8% no fim do mês que vem. Há determinação da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Operador Nacional do Sistema (ONS) para a manutenção dessa vazão, segundo a Cemig, com o objetivo de tentar ajudar Sobradinho, que tem previsão de atingir o volume morto em meados de dezembro se não chover até lá.

Porém, apesar das determinações a nível federal, a Cemig sustenta que não é possível que apenas Três Marias tenha a obrigação de ajudar o reservatório baiano. “Se continuar desse jeito, daqui a pouco teremos problemas também em Três Marias. E isso não é o desejado, pois dessa forma não conseguiremos nunca sair da crise. Ano passado, chegamos a 2,57% e a projeção para este ano é chegarmos a 8% no fim de novembro, se não chover”, afirma o gerente de Planejamento Energético da Cemig, Marcelo de Deus Melo. 

A presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Entorno da Represa de Três Marias, Silvia Freedman, diz que a represa de Sobradinho está fadada a chegar no volume morto, caso não chova, independente do volume liberado por Três Marias, principalmente devido ao alto nível de evaporação no reservatório da Bahia. Ela acredita que o ideal seria reduzir a saída da represa mineira, para evitar níveis tão baixos. “É um momento extremamente crítico, em que é necessário investir, e não estamos tendo nenhum posicionamento. Eu não vejo outra saída que não seja a chuva”, afirma Silvia. Enquanto isso, a redução do volume de Três Marias provoca cenários assustadores ao longo da represa. Em Morada Nova de Minas, na Região Central, um braço da lagoa secou completamente, criando uma espécie de cânion semelhante a uma erosão. Em muitos pontos também é possível ver exemplos da vegetação que passou décadas submersa.

Em nota, a ANA informou apenas que a agência e os demais órgãos envolvidos na gestão dos recursos hídricos do reservatório de Três Marias têm monitorado as vazões e adotado as medidas necessárias a fim de minimizar os impactos da estiagem prolongada e preservar os estoques de água, para cumprir o disposto na legislação brasileira de recursos hídricos. “Três Marias é uma das reservas estratégicas para a segurança hídrica da bacia, que pode ser fundamental caso o próximo período úmido seja abaixo da média, semelhante ao que vem sendo observado nos últimos anos na região”, destacou a agência.

Estado de Minas

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