Embora existam 72 fábricas de fogos de artifício legalizadas em Santo Antônio do Monte, com a maioria dos moradores trabalhando neste ramo de atividade, o município não conta com uma unidade própria do Corpo de Bombeiros. Além disso, a cidade não esta incluída no plano de expansão de batalhões da corporação, que busca dobrar os municípios atendidos.
O batalhão mais próximo do município fica a 70 km, em Divinópolis. Na manhã dessa terça, quando houve a explosão na fábrica Fogos Globo, duas viaturas levaram cerca de 40 minutos para chegar à cidade. A unidade atende ainda as cidades de Carmo do Cajuru, Cláudio, Itapecerica e São Sebastião do Oeste.
?O município não está dentro do nosso plano de expansão porque existem corporações em outros municípios que ficam muito próximas da cidade, como é o caso de Divinópolis?, explica o capitão Frederico Pascoal, assessor de imprensa do Corpo de Bombeiros.
O plano de expansão de unidade do Corpo de Bombeiros em Minas Gerais busca atender 110 cidades em todo o Estado. Segundo o órgão, dos 853 municípios de Minas Gerais, 55 contam com unidades do Corpo de Bombeiros. Nos últimos dez anos, houve crescimento de 66% no número de batalhões, já que, em 2004, apenas 33 municípios contavam com unidades. Dentre os principais critérios para a implantação de um batalhão dos bombeiros em um município estão população com mais de 30 mil habitantes, área de verticalização da cidade, número de veículos emplacados, patrimônio histórico, isolamento geográfico e área de preservação ambiental.
Nos últimos 45 anos, pelo menos 61 pessoas morreram em explosões em Santo Antônio do Monte e municípios vizinhos, conforme levantamento do Sindicato dos Trabalhadores das Fábricas de Fogos (Sindifogos). Só de 2011 para cá foram 12 mortes. O pedido para implantação de uma unidade dos bombeiros na cidade é antigo. ?Sempre pedimos para ter uma equipe aqui, mas nunca conseguimos. Falta apoio político também?, destacou a vice-presidente da entidade, Débora Aparecida Oliveira.
Enquanto isso, Santo Antônio do Monte continuará convivendo com riscos de incêndios e mortes. A cidade é o segundo maior polo de fabricação de fogos de artifício do mundo, perdendo apenas para a China. Com 27 mil habitantes no município, o setor emprega direta e indiretamente 15 mil pessoas. É a principal atividade econômica que faz Santo Antônio ser conhecida não só pelos fogos, mas também pelas tragédias. A mais triste delas ocorreu há cerca de 20 anos, quando 13 pessoas morreram.
O acidente dessa terça, que registrou quatro mortes, foi o pior dos últimos anos. A prefeitura da cidade não decretou luto oficial. O prefeito Wilmar de Oliveira Filho estava viajando e não concedeu entrevista.
Quem trabalha nas fábricas convive com o medo diariamente. A renda média dos funcionários é de um salário mínimo, mais um adicional de 30% de periculosidade. Porém, segundo o Sindifogos, muitos recebem dinheiro por fora. ?Fazemos campanhas para aumentar o salário oficial, mas é muito difícil. Praticamente, a única opção de trabalho na cidade é nessas fábricas e, infelizmente, são lugares a que, todos os dias, vamos trabalhar sem saber se voltaremos?, afirmou a vice-presidente. Entretanto, Débora admite que muitos funcionários não dão importância aos equipamentos de segurança.
De acordo com o chefe da seção da saúde e segurança do trabalho da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Minas, Francisco Reis, é muito comum, em toda a cidade, que os trabalhadores ganhem por produção, o que faz com que não se preocupem com a própria segurança.
Fiscalização
O alvará de funcionamento para fábricas de fogos de artifício é expedido pelo Exército, que controla este tipo de atividade. Há também fiscalizações dos órgãos ambientais e do Corpo de Bombeiros.
Por meio de nota, o Exército informou que a Fogos Globo foi vistoriada em março deste ano e está regularizada. A situação da empresa também está regular para os bombeiros. Santo Antônio do Monte é a única cidade do país com posto de fiscalização do Exército, mas o controle das indústrias é feito pelo Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 4ª Região Militar, com sede na capital. Em 2008, a Fogos Globo teria registrado outro acidente com morte.

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