Formiga, 17 de outubro, sexta-feira, 23h30. Na varanda que serve de abrigo (?) aos que por qualquer motivo dependem dos serviços do PAM ? PRONTO ATENDIMENTO MUNICIPAL ? conforme fotos e vídeo feitos no local fica, mais uma vez, atestada a precariedade do atendimento ali prestado ao público.
Enfermarias lotadas e pelos corredores, muita gente mal acomodada nas cadeiras que se estendem ao longo deles e ali o que se ouve são queixas, gemidos e muita reclamação.
Em uma sala ? que eles insistem em apelidar de consultório ? um médico que de Arcos veio cobrir o plantão para o colega Leopoldo, é incisivo ao nos receber juntamente com um vereador que representa a Comissão de Saúde do Legislativo (Cabo Cunha) e familiares de um cidadão que há mais de 20 horas ? o seu calvário começou no dia anterior – está em uma enfermaria, com suspeita bem fundamentada de apendicite. Diz o médico Deoniron Camilo: ?já fiz tudo que estava ao meu alcance. Preciso do auxílio de um cirurgião para em conjunto fazermos o diagnóstico e decidirmos pela imediata cirurgia que a meu ver, é o mais correto neste momento. Mas, isto aqui que deveria funcionar como Pronto Atendimento, ao que vi, não tem cirurgião escalado nem mesmo de sobreaviso. Tenho aqui mais dois casos gravíssimos e não estou encontrando as mínimas condições para atendê-los. É uma vergonha!?
Diante desta constatação, nós, Cabo Cunha e este editor, nos dirigimos à portaria do Hospital São Luiz e de fato, ali verificamos que não havia ninguém escalado para o atendimento naquela especialidade (cirurgia). Aliás, da escala que fizemos questão de verificar e fotografar, não constam também ortopedista e segundo voz corrente no próprio hospital, médicos de outras especialidades, tão importantes quanto aquelas, que não mais atendem por ali. Veja foto da escala de plantão.
Por volta das 23h30, após diversas tentativas de contato com o gestor que naquele dia e horário deveria atender a tal emergência e não conseguindo, não tivermos outra alternativa a não ser a de falarmos com o provedor da Santa Casa, Geraldo Couto, que como de costume, nos atendeu com muita cortesia e certamente deve ter dado andamento às providências que entendeu cabíveis.
Por volta de 1h00 da madrugada de hoje (18), deixamos o hospital, certos de que a família do paciente Manoel Messias, logo-logo teria a notícia do início de sua cirurgia, conforme já preconizado pelo médico plantonista que insistia no fato da necessidade de imediata do procedimento.
Na saída, fomos abordados por uma mãe de uma senhorita que se encontrava na enfermaria, que nos exibiu a solicitação de um hemograma, sem o qual, difícil seria diagnosticar sua enfermidade e dar prosseguimento seguro ao seu tratamento.
Só que, dizia ela muito aflita: ?Tenho que esperar amanhã porque segundo me informaram o PAM e o Hospital não tem laboratório funcionando para fazer este exame. Só pagando!?. Confira a foto do pedido.
Questionamos: Como pode funcionar um Pronto Atendimento ou um Hospital que se diz referência, se não são capazes de atender a um simples pedido de exame, Hemograma?
Detalhe: Na manhã do dia seguinte, ao retornarmos ao hospital, aquela mesma mãe, veio nos informar que logo após nossa saída e depois de circular nos corredores a informação de que a imprensa já havia sido cientificada do problema, não soube ela nos explicar, como nem porque, o exame foi rapidamente realizado. Melhor assim e isto é mais uma prova de que as coisas por ali não andam mesmo muito bem.
Nesse sábado (18), por volta das 10h. Finalmente, depois de muita interferência, inclusive do Dr. Fabrini, veio de Divinópolis um cirurgião, Dr. José Alberto, para fazer a cirurgia que há mais de 30 horas, já estava como indicada e necessária para, quem sabe, evitar o agravamento do quadro de saúde do paciente, visivelmente debilitado e se contorcendo em dores. (veja foto dele, feita esta manhã no corredor).
Na saída, alguém de uniforme branco nos diz que, infelizmente, de ontem para hoje, registrou-se ali, dois óbitos ? um por parada cardíaca e um outro que provavelmente dependeria de cirurgia.
Neste exato momento somos interrompidos por uma senhora, visivelmente nervosa (ABALADA) que numa simples frase, sintetizou tudo: ?Peça ao prefeito para resolver isso já, ou então que ele feche isto aqui que pode ser tudo, menos um Pronto Socorro!?

Explicando a presença do paciente, no corredor:
Se antes, já havíamos relatado que ele estava numa enfermaria, como explicar agora, sua presença ali no meio do corredor arrastando junto de si a parafernália do soro ligado à sua veia, tudo suportado por um parente seu?
Muito simples. Só porque os banheiros das enfermarias, estão todos interditados, assim como os destinados ao atendimento das centenas de pessoas que diariamente dependem do atendimento SUS, ali mesmo, no PAM.
Higiene total! Segurança idem, e certamente a Vigilância Sanitária e o Controle de Infecção Hospitalar ? devem estar monitorando tudo, bem de perto. Confira as fotos.
Concluindo:
Por telefone, o vereador Cabo Cunha, por volta das 10h30, nos informou que obteve do Dr. Fabrini a informação de que grande parte das dificuldades ? problemas ? aqui relatados, são frutos da falta de pagamento da Prefeitura ao Hospital, o que, evidentemente, torna mais difícil a negociação e a exigência de cumprimento de horários e de presença em plantões, dos profissionais que não têm recebido, conforme combinado e lhe é de direito, os honorários a eles devidos pela contraprestação de serviços.
É importante ressaltar aqui que a boa vontade, a educação, o interesse e a competência de todos os funcionários e plantonistas aqui citados, ficaram evidenciados mas, infelizmente, atendimento eficaz à saúde pública precisa de algo mais que boa vontade para ser ofertada a contento: Gestão e cumprimento de compromissos assumidos por todas as partes envolvidas, nos parece ser tão ou mais importante quanto. As condições do PAM são precárias e ninguém entende as razões daquela super ? UPA, há muito tempo construída e quase concluída, ali bem próximo, não esteja ainda atendendo a população formiguense. Aliás, fica a dúvida: se hoje, do lado de cá, falta estrutura e profissionais disponíveis ? efetivamente presentes ? como será o amanhã? Muita sala, maior conforto! Espaço de sobra. Mas será que o principal, profissionais disponíveis em todas as áreas, ali estarão? Este município que sabidamente anda atrasando a ?mixaria? mensal destinada à Santa Casa, terá condições de bancar a nova UPA?
Como é que um Pronto Atendimento pode funcionar sem que sequer disponha diariamente dos serviços de profissionais das áreas de cirurgia, ortopedia e de outras de igual importância?
Que a comissão de Saúde Pública da Câmara, a própria Secretária de Saúde e quem mais queira, nos respondam estas dúvidas. Estaremos prontos para transcrever e ouvir aqui, a todos os senhores para então, quem sabe finalmente, responder à população que, diuturnamente nos encaminha reclamações neste sentido já que, na Ouvidoria própria, ao que parece, não estão sendo ?escutados?.
Se a falta d?água foi, como é, motivo para a decretação do ?Estado de Calamidade Pública? neste município, nos parece que o prefeito que prometeu fazer do atendimento à saúde o mote principal de seu governo, agora como de há muito tempo, tem aqui, um excelente motivo para aduzir ao decreto mais esta razão.

Confira o vídeo da entrevista com familiares do paciente que precisou esperar mais de 20h por uma cirurgia

COMPATILHAR: