Um grupo de 15 senadores do Partido Democrata dos Estados Unidos enviou uma carta ao presidente americano nesta sexta-feira (16) em que reclamam da falta de medidas para preservar o ambiente por parte do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Os políticos dos EUA também pedem para que Biden condicione qualquer apoio à preservação da Amazônia a um progresso nas ações brasileiras.

A carta foi assinada por senadores como Patrick Leahy, líder do comitê que aprova os gastos de dinheiro do governo; Bob Menendez, do comitê de relações exteriores e Bernie Sanders, que foi pré-candidato à presidência dos EUA.

Há expectativa de um encontro entre Biden e Bolsonaro, além de outros líderes internacionais, para falar sobre o clima.

Aparentemente, a carta tem como objetivo evitar que Bolsonaro consiga se reposicionar como um líder disposto a cooperar para a preservação do ambiente só para garantir um repasse de bilhões de dólares.

Na carta, os senadores também afirmam que se o ritmo de desmatamento não melhorar, eles não vão aprovar o pedido do Brasil de ingressar na OCDE, uma espécie de clube de países ricos (esse é um dos objetivos de Bolsonaro).

“A retórica e as políticas do presidente Bolsonaro efetivamente deram um sinal verde para que os perigosos criminosos que atuam na Amazônia, que permitiu a eles expandir suas atividades”, afirma a carta.

Eles também citam abusos relatados pela ONG Human Rights Watch.

Honrarem os compromissos

Uma parceria entre EUA e Brasil “só pode ser possível de a gestão de Bolsonaro começar a levar os compromissos com o clima do Brasil a sério –e só se eles protegerem, derem apoio e se engajarem significativamente com os brasileiros que podem ajudar o país a honrarem esses compromissos”, afirmaram os senadores.

Durante a campanha presidencial, Biden propôs que um grupo de países pudessem doar US$ 20 bilhões ao Brasil para combater o desmatamento e que, caso o país fracasse, enfrente consequências.

Naquela ocasião, Bolsonaro classificou os comentários de Biden como desastrosos.

Conversas bilaterais sobre o clima com o Brasil começaram no dia 17 de fevereiro. O responsável por elas foi John Kerry, o enviado especial para o clima dos EUA.

Os dois lados têm mantido encontros técnicos que antecedem a cúpula marcada para os dias 22 e 23 de abril, que acontecerá por transmissões pela internet.

O Brasil tentará mostrar que mudou, e que não está fazendo discursos vazios.

O presidente Bolsonaro enviou, no dia 14 de abril, uma carta de 7 páginas para o presidente Joe Biden, em que reconheceu que o governo precisa melhorar seu desempenho para impedir o desmatamento ilegal.

Ele também afirmou que apoia o desenvolvimento sustentável com alternativas econômicas para os moradores pobres da região, e que ele se comprometia a acabar com o desmatamento ilegal até 2030.

Para atingir esses objetivos, ele afirmou que o Brasil via precisar de recursos externos. Ele afirmou que uma ajuda do governo dos EUA seria “muito bem-vinda”.

Tom de Bolsonaro

Rubens Barbosa, um ex-embaixador do Brasil nos EUA, afirmou que ainda é preciso ver se o tom da carta de Bolsonaro vai ser repetido em seu discurso no encontro de cúpula.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou recentemente que busca US$ 1 bilhão em assistência estrangeira para apoiar os esforços para diminuir o desmatamento entre 30% e 40% em 12 meses. Sem esse dinheiro, ele disse que não conseguirá atingir essa meta.

O gasto do Brasil para proteção da Amazônia tem caído há anos. Sob a gestão de Bolsonaro, ele diminuiu ainda 25% neste ano. É o nível mais baixo em duas décadas.

Os senadores dos EUA argumentam que Biden precisa ver melhoras antes de assinar um cheque.

Eles argumentam que Bolsonaro já ridicularizou a agência ambiental e que sabotou os esforços dos órgãos que protegem os territórios indígenas, desprezou ambientalistas e resiste a conter a ilegalidade que alimenta a destruição do ambiente.

“Qualquer ajuda dos EUA ao Brasil ligada à Amazônia deveria ser condicionada a um progresso significativo e sustentável em duas áreas críticas: reduzir o desmatamento e acabar com a impunidade para crimes ambientais e violência contra os defensores da floresta”, afirmaram os senadores.

Os especialistas em clima já avisaram que se o desmatamento prosseguir, a Amazônia passará de um ponto em que não poderá voltar a se recompor. Com isso, serão emitidos bilhões de toneladas de dióxido de carbono. Com isso, dificilmente as metas do Acordo de Paris serão alcançadas.

No entanto, o Brasil se mostrou incapaz de diminuir o desmatamento no passado. O melhor ano foi 2012. De lá para cá, o desmatamento só piorou e explodiu no primeiro ano da gestão de Bolsonaro. No ano passado, houve uma segunda alta histórica.

Em 2019, depois reclamações de líderes da Europa e ameaça de desinvestimento de fundos institucionais, Bolsonaro empregou o exército no combate ao desmatamento.

Dados iniciais indicam que o desmatamento começou a cair, mas ainda está muito acima da média da última década.

No entanto, há críticas de especialistas que afirmam que os soldados não são treinados para isso e o valor disso é muito alto.

O vice-presidente Hamilton Mourão anunciou que o programa do exército vai acabar no fim de abril, e que as agências encarregadas da prevenção vão retomá-lo.

Daniel Wilkinson, que dirige o programa ambiental da Human Rights Watch, afirma que “as autoridades brasileiras têm se esforçado para apresentar o Bolsonaro como um aliado do governo Biden nas questões climáticas, mas que sua nova retórica favorável ao clima simplesmente não pode – e não deve – ser levada a sério na ausência de resultados reais”.

Momento da carta

Essa carta dos senadores dos EUA foi enviada ao mesmo tempo em que pessoas, no Brasil, tentam mostrar como Bolsonaro é um negociador de má-fé.

Mais de 200 organizações não-governamentais e redes assinaram uma carta para dizer que as negociações com os EUA e outros governos estrangeiros acontecem longe do público, e que não dá para contar com nenhuma solução para a Amazônia em negociações a portas fechadas. Eles também ressaltam que as conversas não deveriam prosseguir se não houver melhoras nos índices de desmatamento.

Fonte: G1

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