você, trabalhador assalariado, gostaria de aumentar o próprio salário todo mês em até 40% do que lhe é devido fazendo hora extra? Pois os deputados estaduais mineiros podem e vêm fazendo isso. Mesmo em tempos de crise. Eles são os únicos, entre os representantes dos quatro estados do Sudeste brasileiro, com a prerrogativa de engordar mensalmente o contracheque em quase R$ 5 mil. O valor, custeado pelo contribuinte, é o chamado jeton, pago em razão do comparecimento dos parlamentares nas reuniões extraordinárias, realizadas pela manhã ou à noite, entre terças e quintas-feiras.
Os deputados mineiros têm reuniões ordinárias nas tardes de terça, quarta e quinta-feira para apreciar as matérias em plenário. Mesmo assim, é voz corrente na Casa ? e basta uma simples navegada pelos resultados das sessões do plenário disponíveis na internet para constatar ? que a maioria dos projetos são aprovados nas reuniões extraordinárias. A explicação dos deputados é que as sessões ordinárias acabam sendo esvaziadas pelo pinga-fogo, momento em que eles podem usar a tribuna para discursar aos eleitores. A Casa vem mantendo, sistematicamente, uma média de oito por mês, exatamente o limite fixado para sessões remuneradas.
Cada encontro fora do horário da tarde vale R$ 619,20, o que totaliza R$ 4.953,6 ao fim do mês no contracheque do deputado que comparecer. O valor corresponde a 39,9% do subsídio básico do deputado, de R$ 12.384,07. Aí estão excluídos os R$ 2.250 de auxílio-moradia a que os 77 deputados estaduais de Minas também fazem jus. Para custear as atividades, são pagos ainda R$ 20 mil de verba indenizatória, mediante comprovante, para despesas como manutenção de escritórios parlamentares no interior, material gráfico, contratação de serviços de consultoria e divulgação da atividade, dentre outros. Não é assim em outros estados.
Em São Paulo, os 94 deputados recebem mensalmente R$ 14.634,07 (incluindo o auxílio-moradia) pelas reuniões ordinárias feitas nos cinco dias da semana. Contam, ainda com R$ 19,6 mil de verbas para custeio, podendo gastar no máximo R$ 12 mil em se tratando de único item de despesa. De terça a quinta-feira podem fazer sessões extraordinárias, mas sem receber nenhum centavo por elas. O mesmo ocorre no Rio de Janeiro, que não paga jeton ? o valor equivalia a um doze avos do salário por sessão ? desde 1997, quando houve uma reforma no regimento interno. Com isso, os 70 deputados comparecem para votar fora do horário, quando é preciso, sem embolsar hora extra.
A maioria dos fluminenses recebe ainda menos que os paulistas e mineiros por causa da limitação do auxílio-moradia naquele estado. Ocorre que, apesar dos R$ 2.250 percebidos na proporcionalidade dos deputados federais ? eles recebem 75% da remuneração paga em Brasília, que engloba subsídio mais auxílio-moradia ?, foram limitados por iniciativa da Casa. Lá, o deputado só recebe este valor se comprovar que mora a mais de 100 quilômetros de distância do Grande Rio. O resultado é que, de acordo com a assessoria da Casa, apenas 11 contam com esse valor. Também, segundo a instituição, os parlamentares não recebem, em dinheiro, a verba indenizatória, de R$ 6.885. O uso do recurso, para compra de selos, tíquetes de combustível e ligações telefônicas, é intermediado pela administração do Legislativo.
Os parlamentares do Espírito Santo só contam com o subsídio, de R$ 12.384,07. De acordo com a Assembleia, os 30 representantes do povo capixaba se reúnem três vezes por semana durante três horas e quase não fazem extraordinárias. Mas, quando é necessário, elas ocorrem sem pagamento extra. Também não recebem auxílio-moradia e são limitados no uso da verba indenizatória. Naquele estado, os deputados têm direito a usar uma cota de R$ 7.800 ? eles dizem quais são os gastos necessários e a diretoria-geral da Casa paga, abatendo do total disponível.

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