Militantes católicos ultraconservadores admitiram ter roubado estátuas que consideram ser ídolos pagãos da Amazônia, em uma igreja próxima ao Vaticano, na segunda-feira (21). Eles jogaram três imagens iguais, feitas de madeira, no Rio Tibre, em Roma. O ato de vandalismo ocorre no contexto do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia.

Um vídeo postado por diversos sites católicos conservadores, como a rede americana “EWTN” e o site “LifeSiteNews”, mostraram o episódio em quatro minutos. A polícia italiana está tratando do tema como um furto.

Em um editorial publicado nesta terça-feira (22), o diretor editorial do Vaticano, Andrea Tornielli, afirma que a destruição das estátuas de madeira é um “episódio triste” e “um gesto intolerante” de “novos iconoclastas”. O objeto, diz, simbolizava nada mais que a maternidade e a sacralidade da vida.

Na abertura do Sínodo, em 7 de outubro, o Papa Francisco afirmou que a sociedade moderna não deve tentar impor suas regras aos povos indígenas, mas sim respeitar sua cultura e permitir que eles planejem seu próprio futuro.

O pontífice advertiu que “as ideologias são uma arma perigosa”, e defendeu que “a colonização ideológica é muito comum hoje”. O líder católico pediu que se controlem os impulsos “de domesticar os povos originais”.

As estátuas indígenas estavam expostas com outros artefatos amazônicos na Igreja de “Santa Maria in Traspontina”, a algumas quadras do Vaticano.

As três estátuas idênticas representavam uma mulher indígena grávida e de joelhos. Outra imagem igual foi usada durante uma cerimônia, no Vaticano, em que foram plantadas algumas árvores na presença do Papa Francisco.

Grupos ultraconservadores consideraram a cerimônia ofensiva. Eles acusam o Vaticano de deixar uma imagem da “Mãe Terra”, também conhecida como “Pachamama” entrar em território cristão.

O Vaticano respondeu que a imagem é apenas um símbolo da vida. Perguntado sobre o roubo, na segunda-feira, o chefe do setor de Comunicação do Vaticano, Paolo Ruffini, afirmou que o ato foi “uma exibição”.

Imagens indígenas foram usadas com outros símbolos em oração nos jardins do Vaticano, na presença do Papa Francisco — Foto: Divulgação/Vatican Media

Sem diálogo

A cerimônia em que a controvérsia começou ocorreu na sexta-feira (4) antes do início do Sínodo, a assembleia de três semanas que reúne líderes religiosos com o Papa para discutir o futuro da Igreja Católica na região amazônica.

Alguns grupos conservadores atacaram o documento que preparou a assembleia, o “Instrumentum Laboris”, chamando-o de “herético”.

Na tarde de segunda-feira, o site “LifeSiteNews”, o mesmo que abriu uma petição online para que as imagens indígenas fossem removidas da igreja, publicou um comunicado atribuído às pessoas que roubaram as estátuas.

Eles dizem que fizeram isso porque pessoas fiéis a Jesus “estão sendo atacadas por membros de nossa própria Igreja. Nós não aceitamos isso! Não ficaremos em silêncio! Começamos a agir AGORA!”.

O Sínodo também vem discutindo riscos ambientais à região amazônica. Alguns católicos conservadores, muitos dos quais são “negacionistas” do aquecimento global, disseram que a Igreja precisa se concentrar em salvar as almas, e não se envolver no debate científico sobre o clima.

Entre os temas discutidos está também a possibilidade de ordenar homens maduros e casados como padres, para que possam celebrar missas na ampla região amazônica.

 

Fonte: G1 ||
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