Principal projeto científico do governo federal, o Sirius obteve imagens a partir dos primeiros feixes de luz síncrotron de 4ª geração produzidos no Brasil. Nos testes os pesquisadores observaram, por meio de microtomografias de raio X, estruturas de uma rocha e do coração de um camundongo. A previsão é que o superlaboratório em Campinas (SP) possa realizar experimentos no segundo semestre de 2020.

Os primeiros testes, realizados menos de um mês após a 1ª volta de elétrons completa na estrutura, surpreenderam a equipe, mesmo sendo realizados com uma potência 13 mil vezes inferior que a projetada para a máquina.

“Essas imagens foram surpreendentes. A gente não esperava que fosse conseguir imagens tão bacanas tão cedo, mas ainda é um teste e a máquina consegue entregar muito mais que isso”, afirma a pesquisadora Nathaly Archilha.

O que é o Sirius?

O Sirius é um laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, que atua como uma espécie de “raio X superpotente” que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas. Atualmente, há apenas um laboratório de 4ª geração de luz síncrotron operando no mundo: o MAX-IV, na Suécia.

Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase na velocidade da luz, fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para realizar os experimentos.

Esse desvio é realizado com a ajuda de imãs superpotentes, e eles são responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.

‘Novo patamar’

Diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social responsável pelo Projeto Sirius, Antonio José Roque da Silva classificou o resultado como um feito, capaz de colocar a ciência brasileira em “um novo patamar”.

Financiado pelo Ministério de Ciência Tecnologia Inovações e Comunicações (MCTIC), 85% dos recursos foram investidos no País, em parceria com empresas nacionais.

“Sirius está ainda no início da sua fase de comissionamento, mas esses primeiros testes que permitiram gerar imagens de raios X nos dá a certeza que o futuro será muito brilhante. Seguimos entusiasmados para garantir o quanto antes condições de pesquisas inéditas para a comunidade científica do país”, disse.

O diretor do Sirius projetou que as primeiras linhas de luz da estrutura possam realizar experimentos no segundo semestre de 2020 – o atraso no orçamento, no entanto, impede a conclusão das 13 linhas de pesquisa previstas para o ano que vem. A equipe trabalha para que seis fiquem prontas no próximo ano.

Com o superlaboratório em funcionamento os cientistas esperam conseguir avanços em diversas áreas do conhecimento.

“Você tem as questões da área de saúde, entender melhor doenças, para desenvolver remédios, fármacos, vacinas. Você quer entender melhor as questões ligadas a baterias, para poder ter carros elétricos circulando com eficiência. Você quer novos materiais mais leves e resistentes para esses mesmos carros e aviões. Você quer poder produzir alimentos mais resistentes a mudanças climáticas, e é isso que um grande equipamento como esse pode fazer”, explica Roque.

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