Não causa surpresa ouvir de empresários e empregadores que a falta de capacitação e qualificação inadequada da mão de obra são entraves para um nível ainda maior de emprego e para o desenvolvimento do país. A novidade agora é que vagas deixam de ser preenchidas não porque não existe ninguém habilitado para desempenhar a função, mas porque as condições de trabalho e de remuneração oferecidas são consideradas pouco atraentes e o candidato prefere esperar oportunidades melhores.
No setor supermercadista, das 8.000 vagas abertas neste ano, apenas metade foi preenchida. As redes prometem ainda abrir mais 3.500 postos de trabalho temporários visando o Natal, mas acham que nem 2.000 serão ocupadas. Nas lojas, indústrias e na construção civil também há milhares de vagas abertas não preenchidas, mas as entidades que representam esses setores não conseguiram mensurar o número.
Das mais de 10 mil vagas disponíveis em Minas Gerais no Sistema Nacional de Emprego (Sine) e nas agências de emprego, cerca de 20% estão encalhadas. Em alguns casos, fechamos o processo depois de três meses sem conseguir apresentar candidatos, explica a coordenadora de Recrutamento e Seleção do Grupo Selpe, empresa que atua no recrutamento de profissionais e que atende a mais de 300 empresas em Minas, Liliane Dias. Vagas com rotatividade maior chegam a ser preenchidas em apenas cinco dias.
Segundo ela, há casos em que é preciso traçar uma estratégia específica de ação para conseguir candidatos para determinada vaga, trabalho que tem um custo extra para o cliente. Nesses casos em que é mais trabalhoso encontrar candidatos com o perfil, o valor é maior, diz. E o problema não é falta de mão de obra qualificada, mas um desinteresse do candidato pelo salário, função e horário.
Temos de fazer concessões para conseguir candidatos. Antes, pedíamos experiência mínima de seis meses. Agora nem isso. E ainda assim não conseguimos preencher as vagas, conta o diretor administrativo e financeiro da Forno de Minas, Dênio Oliveira. Há casos em que os candidatos vêm para fazer a entrevista, são aprovados e depois nunca mais aparecem, completa. A dificuldade, segundo Dênio, é para selecionar auxiliares operacionais para trabalhar no terceiro turno da fábrica. O horário de trabalho – de 0h30 às 6h30 de domingo a quinta – geralmente afasta os candidatos. Dênio não revela quantas são as vagas disponíveis para a função, mas diz que elas ficam constantemente abertas.
Quando não é falta de qualificação e nem referentes ao salário ou ao horário de trabalho, o problema para o preenchimento de certas vagas é a concorrência. A gerente de Recursos Humanos da construtora Paranasa, Érica Falci, diz que as empresas têm de entrar em um verdadeiro leilão para conseguir os melhores profissionais, sobretudo engenheiros civis. É a maior lacuna. Para conseguir atrair engenheiros temos de tirá-lo de empresas concorrentes e oferecer salários até 30% maiores, conta.
Sine integrou os dados para agilizar processo
Para agilizar o processo de preenchimento das vagas, os dados do Serviço Nacional de Empregos (Sine) de todo o país estão integrados desde o mês de setembro. Pelo novo sistema, candidatos de todos os Estados estão aptos a concorrerem a vagas em qualquer unidade da federação.
Além disso, também há um esforço para encaminhar solicitantes de seguro-desemprego para vagas relacionadas com a antiga experiência profissional de quem busca o benefício. O objetivo é reduzir as fraudes e conceder o benefício apenas para quem de fato está sem emprego, explica o coordenador do Sine na unidade do bairro Floresta, em Belo Horizonte, Felipe de Assis Maciel. As unidades também encaminham os candidatos para cursos de qualificação profissional.
Sobram vagas no mercado por desinteresse do trabalhador
Baixa remuneração, horários não convencionais e condições ruins espantam os candidatos.