O seleto clube de nações que já conseguiram pousar na Lua está prestes a ganhar mais um integrante. No final da tarde desta sexta-feira (6) a Índia deve pousar seu módulo de exploração lunar, após mais de uma década de preparação.

A sonda Chandrayaan-2 foi lançada da base espacial indiana em julho deste ano e deste então tem alterado sua órbita, fazendo com que ela fique cada vez mais próxima da Lua. Mês passado, sua trajetória estava tão alongada que finalmente adentrou a região no espaço onde a força gravitacional lunar supera a gravidade da Terra e desde então a sonda está presa gravitacionalmente à Lua. A partir daí o movimento é o inverso, encolher as órbitas sucessivamente até que ocorra o pouso controlado.

Essa parte do pouso é a parte crítica em que tudo acontece muito rápido e intervenções do comando levam intermináveis 2 segundos para serem processadas. Se a nave está descendo a uma velocidade de 50 km/h (o que é pouco), até que uma manobra seja iniciada a sonda já desceu quase 30 metros. Toda a sequência de pouso é automática com as manobras podendo ser corrigidas através da análise da situação pela própria sonda.

Módulo de pouso Vikram montado no alto do orbitador Chandrayann (Foto: ISRO)

Para você ter uma ideia do risco, basta lembrar que recentemente uma iniciativa israelense falhou justamente no processo de pouso. A sonda Beresheet teve uma falha no acionamento de seus foguetes quando ela ainda estava a 14 km de distância. Eles permaneceram desligados até que a sonda chegasse a 150 metros de distância da superfície. Nessa altitude os motores voltaram a funcionar, mas já era tarde demais, a Beresheet estava a 500 km/h e seus foguetes jamais conseguiriam freá-la para o pouso.

A missão da Chandrayaan-2 vem na esteira da sua antecessora que teve como missão mapear a Lua à busca de depósitos de gelo, especialmente de gelo de água. Com os mapas da Chandrayaan-1 em mãos, a segunda missão foi planejada para ir um pouco mais além. A Chandrayaan-2 é composta por três módulos, o orbitador (a Chandrayaan em si), um módulo de pouso chamado Vikran, em homenagem a um dos idealizadores do programa espacial indiano e um pequeno jipe chamado Pragyan (sabedoria em sânscrito).

O orbitador carrega a maior parte dos instrumentos científicos da missão, que inclui uma câmera para mapear a Lua em alta resolução, além de instrumentos capazes de analisar raios-X e infravermelho. Além disso, um radar vai ser usado para estudar o subsolo lunar. Outro instrumento da Chandrayaan não tem nada a ver com a Lua, mas sim com o Sol! Um equipamento capaz de monitorar as emissões de raios-X, especialmente útil durante os tempos de tempestade solar.

Já o módulo de pouso Vikram carrega instrumentos para medir a temperatura do solo a uma profundidade de 10 cm, um equipamento para medir o plasma lunar e um sismógrafo. Sim, o módulo Vikram tem um instrumento capaz de medir pequenos selenomotos (os terremotos lunares). Ainda que a Lua não possua movimentos tectônicos como a Terra, alguns abalos sísmicos foram registrados pelas missões Apollo e a missão chinesa Chang’e. Além desses instrumentos, o Vikram vai levar um painel para refletir raios laser disparados da Terra. Isso vai permitir não só medir a distância até o ponto de pouso na Lua, mas conhecer melhor os movimentos lunares que são tão sutis que são imperceptíveis sem medidas precisas.

O jipe Pragyan por sua vez também carrega sua suíte de instrumentos: um analisador de raios-X e um disruptor laser, que irá estudar a composição química de rochas lunares. O jipe foi projetado para rodar no máximo 500 m e tem capacidade de comunicação apenas com o módulo Vikram, que irá transporta-lo durante o pouso.

Essa será a primeira missão de pouso lunar da Índia, mas também é a primeira missão da história a estudar um dos polos lunares, no caso o polo sul. Os polos são locais de difícil acesso pelas naves, por isso sempre ficou em segundo plano, mas é neles que estão os depósitos de gelo da Lua. Com a ajuda da própria Chandrayaan-1, depósitos de gelo foram encontrados em crateras nos polos da Lua em que a luz do Sol nunca consegue iluminar. Desse jeito, o gelo vindo de cometas que se chocaram com a Lua no passado ainda deve estar lá, intocado. É desse reservatório que missões futuras de colonização devem retirar a água para abastecer as bases. E é esse o interesse do mundo todo nesta missão.

O orbitador foi construído para cumprir sua missão principal em apenas um ano, mas a longevidade da missão anterior sugere que ele deve durar mais. Já os módulos de pouso e o jipinho não vão resistir a mais do que um dia lunar, que corresponde a 14 dias terrestres. Quando chegar a noite lunar, ambos vão deixar de receber luz do Sol (óbvio!) e com a escuridão vai chegar também o frio de uns 150 graus negativos. Não há eletrônica que sobreviva a isso. Para que uma missão possa durar mais do que 1 dia lunar, ela precisa usar aquecedores para passar o período de escuridão com um calorzinho que mantenha os equipamentos em estado saudável. As sondas chinesas têm aquecedores, mas a Índia não os incluiu nos seus módulos.

Por que, então, investir em uma missão tão curta?

Simples, para mostrar que o país possui desenvolvimento tecnológico suficiente para orbitar e pousar na Lua. E isso tudo com tecnologia praticamente 100% nacional. Aliás, o foguete lançador é indiano e todos os algoritmos que controlam as naves e os equipamentos foram desenvolvidos no país.
Apesar dos riscos altos, vale lembrar que a Índia conseguiu inserir uma sonda na órbita de Marte na sua primeira tentativa! E sua missão, que deveria ser de apenas 6 meses, já está em quase 5 anos!
De acordo com as últimas notícias, o pouso está previsto para acontecer às 17:25 (horário de Brasília) desta sexta feira dia 06.

A missão em 7 tópicos

  1. Sonda Chandrayaan-2 foi lançada em julho
  2. Pouso é a parte crítica e está previsto para 17:25 (horário de Brasília)
  3. É a primeira missão da história a estudar um dos polos lunares
  4. Em abril, sonda israelense Beresheet foi destruída em acidente no pouso
  5. Missão indiana leva um pequeno jipe e, entre outros instrumentos, um painel para refletir raios laser disparados da Terra
  6. Se tudo der certo, frio de 150 graus vai inutilizar parte dos equipamentos depois de apenas um dia da Lua
  7. Índia já conseguiu inserir uma sonda na órbita de Marte e segue para Lua com tecnologia praticamente 100% nacional

 

Fonte: G1||
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