De repente o telefone toca e, do outro lado, um conhecido batalhador na defesa do estabelecimento de uma cota mínima para os lagos de Furnas e de Peixoto, me avisa: Comemore cara, a ANA finalmente acordou!

Não pensem que se trata de alguma conhecida nossa que, por alguma razão, estivesse em coma, ainda que induzido e que, repentinamente, havia recuperado suas atividades cerebrais, algo que, para muitos, só se daria por milagre.  E se assim fosse, a sua recuperação seria motivo para a mobilização de amigos e parentes, num retumbante anúncio da boa nova, via redes socais ou pela chamada privada via telefone.

Mas, esclarecemos. Não foi nada disso que ocorreu.  A ANA em questão, nada mais é que a sigla usada para definir a Agência Nacional de Águas que, na Quarta-Feira de Cinzas, publicou na Imprensa Oficial a resolução de número 63 – por ela exarada em 12 de fevereiro de 2021.

Especificamente, tal instrumento determina condições complementares àquelas estabelecidas em outorgas anteriores e demarca as novas faixas de operação na geração de energia,  numa  tentativa de se promover uma recuperação dos combalidos volumes dos reservatórios de Furnas e de Peixoto.

Acordou tarde a velha ANA, e ainda assim permitiu que tal inciativa terá validade apenas até maio deste ano, ressalvando que as novas vazões defluentes por ela ali estabelecidas, poderão ser até desrespeitadas pelos operadores dos reservatórios, em casos considerados como excepcionais.

Ora, se a ANA tivesse tomado esta mesma medida em novembro ou dezembro passados, a história seria outra. Teria atendido o clamor de milhares de brasileiros, cuja grande maioria, é claro, era de mineiros, todos reunidos em torno de uma mesma ideia e agregados em grupos sociais, contando também com o apoio de deputados estaduais, federais, senadores, ministros e até mesmo, ao que parece, do presidente da República, que manifestavam através de várias inciativas, seu inconformismo com a maneira pela qual eram operados nossos recursos hídricos.

Sabe-se nitidamente que o esvaziamento de nossos lagos de dá, ainda hoje, também para beneficiar, ou melhor, se viabilizar o funcionamento da hidrovia Tietê/Paraná. Sem medo de errar, afirmamos que os níveis das represas acima citadas estariam bem próximos das cotas máximas para elas estabelecidas, repetimos se o acordar da ANA tivesse ocorrido no final do ano passado. Nossa gritaria, infelizmente, não foi suficiente para tirar a dita agência do coma profundo, eis que este durou por mais de uma década.

Se o erro que resultou no esvaziamento dos lagos veio lá de trás (2012) e anos subsequentes, há que se concordar com o fato de que, a política traçada pelo ONS com o compadrio da ANA e de outros órgãos federais, garantiu além da regular geração de energia conforme eles afirmam, também o surgimento deste caos que assolou o território mineiro por longos anos, e que, como brinde, nos trouxe o desemprego, prejuízos econômicos e sociais, a fuga de investimentos e por cima de tudo isto, ainda acabou perpetuando uma série de crimes ambientais que ano a ano se repetem como o “vai e vem” da lama e de pouca água.  

E o que é pior: só agora, ao que se sabe, o Estado de Minas, finalmente, está ultimando as ações burocráticas para conceder a Furnas, o tal licenciamento ambiental que para qualquer empresa que aqui se instale, seja ela grande, média ou minúscula, é condição sine qua non, para que ela entre em funcionamento.  

Registramos aqui, o fato de que a Assembleia Legislativa de Minas, por iniciativa do deputado Professor Cleiton, aprovou por um número expressivo de votos, a PEC que se transformou na Emenda Constitucional 106 que, se efetivamente for colocada em prática, terá o condão de, como diz o mineiro, “salvar nossa lavoura”, propiciando que uma vasta região do nosso Estado tenha de volta a esperança e as condições que a leve a produzir riqueza, renda, empregos, e muito mais.

Mas saibam, o melhor deste acordar inesperado, foi saber que o nosso governador, em vídeo por ele divulgado em suas redes sociais, comunicou aos mineiros a alvissareira notícia. O entusiasmo de nosso governante foi tal que, seu aparecimento se deu em ritmo de gala, eis que ele até estava paramentado de terno e gravata!

Parabéns governador! Sua comunicação aos mineiros foi bem recebida, mas, conhecedores que somos da história destes lagos há mais de 50 anos e, recorrendo às estatísticas de dados apresentados pela própria Furnas, ficamos a imaginar que esta atual atitude de “Donana” quer nos parecer, se assemelha às tais “pílulas douradas” que a mineirada de mais idade, bem sabe o que são, para que servem, e porque as douraram.  

Que seu entusiasmo demonstrado no vídeo, governador, se repita em breve quando tivermos que exigir o cumprimento da emenda constitucional que, convenhamos, já deveria estar sendo colocada em prática.

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