Apesar da Argentina estar em dificuldades econômica e política nos últimos 30 anos, situação muito pior que o Brasil, na área espacial, nosso vizinho consolida-se como líder da América Latina.

Em 30 de setembro último, o Ariane 5 lançou o ARSAT-2, o segundo satélite geoestacionário projetado e fabricado na Argentina, o único país da América Latina a conseguir tal feito.

É o coroamento de um programa que começou nos anos 90 com a separação do programa espacial das forças militares argentinas. Isso em um momento de crise econômica do país e da desorganização do programa espacial, o que levou o governo a leiloar o espaço destinado à Argentina, a posição Oeste 71,8, para que seus direitos não caducassem.

Em 1998, a DirecTV queria entrar no mercado local, que tinha o maior índice per capita de televisores a cabo do mundo. Com o primeiro satélite de telecomunicações, a Argentina ganhou os direitos para outra posição orbital mais privilegiada: o Oeste 81, que permite operar do Alasca à Patagônia, favorecendo o já maior exportador de conteúdo de mídia espanhola no continente.

Porém a empresa responsável pelo lançamento do satélite, a Nahuelsat, fracassou no lançamento do Nahuel 2, para o Oeste 81, e também falhou para substituir o primeiro ao tentar lançar o Nahuel 1ª, no Oeste 71,8. Depois de algumas negociações com os acionistas da Nahuelsat, todos os ativos e obrigações foram passados para a ARSAT, Empresa Argentina de Soluciones Satelitales Sociedad Anonima, empresa estatal.

O sucesso dos satélites argentinos SAC-B e SAC-D levou o governo a decidir pela opção de desenvolvimento nacional na INVAP, a empresa estatal de tecnologia de ponta, localizada em Bariloche, e que tive a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento do sistema de guiagem contratado para o satélite brasileiro Amazônia-1.

O projeto do ARSAT-1 foi contratado em 2008. A INVAP comprou de fornecedores estrangeiros os motores de propulsão, painéis solares e o computador de bordo, os demais equipamentos foram projetados, qualificados e testados na Argentina. Cabe ressaltar, testemunhado por mim, o computador foi comprado porque a equipe estava trabalhando no computador brasileiro e não daria tempo para fazerem o deles próprios. Além disso, o software de bordo e o de solo foi feito lá.

O ARSAT-1 foi equipado com 24 transponders em banda Ku com objetivo de fornecer serviços de dados, telefone e de transmissão de televisão para a Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Com espaço a bordo, incluíram três experimentos científicos, o Monitor Argentino de Radiação Espacial – MARE, o Medidor de Fluorescência Atmosférica – FOG e um estudo de degradação células solares no ambiente da órbita do satélite.

O ARSAT-1 foi satélite foi lançado com sucesso em 16 de outubro de 2014. Em seguido, o ARSAT-2 foi concluído e lançado no último 30 de setembro com sucesso total para os argentinos que viram premiados seu esforço e investimento. Exemplo que poderia inspirar os polítcos brasileiros a apoiarem de verdade as ações brasileiras que sofrem com a falta de recursos e com as empresas nacionais mal intencionadas.

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