(Foto: Comunicação Câmara)

Paulo Coelho*

A denúncia
Usando o tempo regulamentar que é concedido aos vereadores nos momentos intitulados como “Pedidos de Providência” e “Palavra Livre”, a vereadora Joice Alvarenga/PT tornou pública na reunião do Legislativo dessa semana uma grave ocorrência na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Formiga, no sábado passado (18), quando pode ter ocorrido um crime de omissão de socorro. A paciente, uma criança de quatro anos, foi encaminhada à unidade, após ser encontrada pelos pais, tentando assoprar um preservativo masculino, que teria sido encontrado na rua.

De acordo com a vereadora, após a criança ser atendida, a mãe dela foi informada de que seria necessário que a paciente fosse submetida ao atendimento de um médico infectologista, o mais rápido possível, para que as providências previstas em protocolo para casos desta natureza fossem tomadas de imediato. A unidade mais próxima que dispõe desse profissional é a UPA de Divinópolis.

Falta de veículo para o transporte
Os acompanhantes da menor também foram cientificados que a UPA, naquele momento, não dispunha de veículo para fazer o transporte da e que a família deveria então tomar tal providência por conta própria, tendo sido entregue ainda, o documento referente ao encaminhamento para Divinópolis (imagem abaixo).

Sequência da denúncia e providências tomadas
Na segunda-feira (20), tendo ciência do ocorrido, por meio de informações da família da criança, em companhia do vereador Flávio Martins/PSC, Joice dirigiu-se à UPA em busca de informações e de uma justificativa para o não encaminhamento imediato da criança para um infectologista. Durante a visita, apesar dos esforços dos funcionários em atendê-los, não foi encontrado nos computadores, nenhum registro do atendimento e nem mesmo o respectivo prontuário lhes foi apresentado.

Mais tarde, já com a presença do administrador da UPA, Weyndersohn da Silva Fonseca (Preto), foi-lhes exibido o prontuário e nele, na folha de rosto, havia uma assinatura da mãe da criança e no verso, um relato do médico dava conta de que, após ser ouvida a equipe, decidiu-se pelo encaminhamento da criança para a UPA de Divinópolis e também a informação de que mãe da paciente teria assumido a responsabilidade de transportá-la até Divinópolis e que possuía meios para fazê-lo. (veículo próprio?). Weyndersohn disse que no registro de atendimento não há nenhuma menção a respeito da negativa de transporte para a criança até Divinópolis.

Ainda segundo o coordenador, o prontuário da paciente em questão não havia sido encontrado na primeira visita dos vereadores ao local porque a funcionária que os atendeu não possui conhecimento técnico para acessar tais dados e, além disso, todas as segundas-feiras, os prontuários da UPA são enviados para a Secretaria de Saúde para análise.

De acordo com informações de Joice, a mãe da criança, que é analfabeta funcional, lhe disse que assinou o que e onde lhe mandaram assinar e que ela não tinha condições de ler o documento e que hora alguma ela disse que assumiria a responsabilidade de transportar a criança. O pai da criança informou aos vereadores que ao receber o papel de encaminhamento da criança para Divinópolis, pediu ao médico para ver o que a esposa tinha assinado, mas isto lhe foi negado.

(Foto: Comunicação Câmara)

Flávio Martins
Em sua fala, durante a reunião da Camara, Flávio confirmou todo o relato da colega Joice e assinalou que estranhava muito o fato de existir um documento atestando que a mãe da criança se dispusera a assumir a responsabilidade de transportá-la para Divinópolis já que, visivelmente, aquela senhora não possui condições de bancar o transporte.

Ouvindo o outro lado

Secretária de Saúde
Em contato telefônico, na terça-feira (21), a secretária de Saúde, Denise Mota informou ao Nova Imprensa que já tinha determinado que o pessoal do PSF que atende a família, se inteirasse dos fatos e tomasse as providências necessárias. Informou que a equipe da Saúde já havia disponibilizado um veículo para providenciar o retorno da criança a Divinópolis, mas que, até aquele momento a família não tinha “aparecido”. Na quarta-feira (22), em novo contato telefônico, Denise disse que estava reunida com o coordenador dos médicos da UPA, o médico Pedro Paulo e que ele poderia explicar melhor sobre o ocorrido.

Coordenador dos médicos da UPA
De acordo com o médico Pedro Paulo, ao contrário do que foi dito, na UPA existe sim e está à disposição da família o prontuário com todos os registros do atendimento da menina. Na opinião dele, todo o atendimento ocorreu dentro da normalidade: a criança passou pela triagem, foi atendida pela equipe que estava de plantão e foi entregue à família o encaminhamento para a UPA de Divinópolis. “Houve sim, conforme informado no prontuário, a concordância da família em transportar a criança, por sua conta e risco”.

O médico informou também ao jornal que na quarta-feira, já havia chegado ao conhecimento dele que o preservativo em questão, estava sem uso e havia sido dada à criança por uma vizinha para brincar “de balão”. “Isto muito nos tranquiliza, pois elimina a possibilidade de uma contaminação mais séria”, disse o médico. “Mas, na segunda-feira, a criança foi atendida em Divinópolis e as providências cabíveis na defesa de sua saúde, foram tomadas”, disse.

O médico reafirmou que todo o protocolo de atendimento, no entender dele, foi cumprido e que se a família entende que deve tomar alguma providência, toda a documentação existente na UPA será liberada para que eles façam cópias e delas se valham.

Visitando a família
A reportagem, em companhia da vereadora Joice Alvarenga, esteve na manhã de quarta-feira, na residência da família, onde ouviu o relato dos pais da criança sobre o caso e concluiu que tais informações coincidem com as divulgadas pelos vereadores na Câmara.

Também foi possível constatar o estado de vulnerabilidade em que a família vive e que a mãe da criança, de fato, é analfabeta funcional.

Os pais da criança confirmaram que no início dessa semana, uma vizinha deles esclareceu que a criança recebera a camisinha sem uso para brincar com “as crianças dela” que já têm este hábito.

Sobre o primeiro atendimento à criança, o pai da menor disse que a pedido de um funcionária da UPA, ele teria voltado em casa e recolhido no bueiro o preservativo que tomara da filha, levando à unidade. Porém, quando chegou na UPA quem o atendeu informou que não era mais preciso, pois o exame teria sido descartado.

O que diz a Prefeitura

Secretaria de Saúde esclarece sobre atendimento a criança de 4 anos na UPA

No sábado passado, a Unidade de Pronto Atendimento recebeu para avaliação médica uma criança que teria mastigado um preservativo encontrado na rua

A Secretaria Municipal de Saúde vem a público esclarecer sobre o atendimento feito a uma criança de 4 anos pela equipe da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no sábado passado, dia 18 de agosto. A criança esteve no local para uma avaliação médica depois de ter mastigado, conforme relatou a mãe, um preservativo encontrado na rua de sua casa.

Conforme informou a coordenação da UPA, a criança foi logo atendida por um médico e medicada na unidade. A equipe fez contato com o SAE (Serviço de Atendimento Especializado) solicitando atendimento do profissional para examinar a criança e providenciou o transporte para levá-la a Divinópolis. Porém, a mãe recusou o transporte e disse que tinha recursos próprios para levar a criança. Ela assinou um documento médico assumindo a responsabilidade de transportar a criança a Divinópolis.

Na segunda-feira desta semana, alguns vereadores procuraram a UPA questionando o atendimento feito à criança. A coordenação da unidade explicou o ocorrido. Depois, mesmo com o documento assinado pela mãe se responsabilizando a levar a criança a Divinópolis, o setor de epidemiologia da Secretaria de Saúde agendou o atendimento com um profissional infectologista e providenciou o transporte da criança para fazer o exame. O resultado já saiu e não foi detectada nenhuma infecção.

Finalizando
Ouvida novamente pelo Nova Imprensa, a vereadora Joice Alvarenga que após a denúncia por ela formulada na Câmara convidou os vereadores, em especial os que compõem a Comissão de Serviços Públicos, a averiguarem com muito critério todo o ocorrido, declarou:

“É inadmissível que alguém possa contrair uma doença, em razão da falta de atendimento ou não tomada das providências exigidas, tendo passado pela UPA ou por qualquer outro órgão de Saúde Pública”;

“Igualmente inadmissível que uma Unidade de Pronto Atendimento não disponha de um veículo para atender a pacientes que precisem ser deslocados para outras unidades”;

“Repito, que alguém ficar exposto a risco de morte em razão de negligência ou por conduta errada de quem quer que seja, é algo que não podemos aceitar. Sabemos que na UPA faltam médicos, enfermeiros, técnicos e outros auxiliares o que, sobrecarrega os que lá estão trabalhando, repito, com muito empenho. Mas isto é problema do prefeito Eugênio. Cabe a ele resolver. Eu vou submeter aos meus colegas, o pedido de abertura de uma CPI da Saúde. Assim, quem sabe, a gente ajuda o Executivo a enxergar e sanar uma série de problemas que todos sabemos tem ocorrido nesta área. Parece que o Executivo não tem se sensibilizado com os diversos avisos, reclamações e pedidos de providências que partem desta casa e da população através das redes sociais. Isto e tudo o mais que envolva a garantia de atendimento à saúde da população, precisa ser muito bem cuidado pois, uma bobeada como esta que denunciamos, pode causar danos irreversíveis aos pacientes”.

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