Alguns aderem ao jeitinho brasileiro para burlar os agentes de trânsito enquanto outros usam o viva-voz da tecnologia bluetooth. Há também os motoristas mais conscientes ou que já sentiram no bolso o peso da infração.

São várias as explicações para a queda no número de multas pelo uso de celular ao volante em Belo Horizonte. Nos dois primeiros meses deste ano, a redução foi de 15% em relação ao mesmo período de 2015. A média, porém, segue elevada: 112 canetadas por dia.

Na comparação do ano passado com 2014, a diminuição das multas na capital foi maior: 30%. Especialistas em tráfego ressaltam que esta redução é favorecida pela limitada fiscalização. Eles são unânimes no alerta para o risco de acidentes de quem dirige usando o celular, potencializado pelo aplicativos de mensagens de textos, GPS e redes sociais.

Flagras

Basta um rápido giro pelos principais corredores da cidade para flagrar alguém teclando enquanto aguarda no semáforo ou com o veículo em movimento. “Sei que é perigoso, mas tento responder rápido. O celular fica no colo e fico atenta”, diz uma advogada de 27 anos, moradora da região Centro-Sul de BH. “Prefiro o fone de ouvido, pois fico com as mãos livres. Todo mundo dirige ouvindo rádio. Acho as duas situações iguais”, aponta um publicitário de 35 anos.

A avaliação dele é discutível, adverte o especialista em trânsito Ronaldo Gouvêa. “O problema do celular se deve a dois fatores. Primeiro por retirar a destreza, pois a pessoa passa a dirigir com apenas uma mão. Segundo pela distração, pois mesmo com o fone de ouvido, a pessoa pode ter a atenção desviada.

Ele reconhece que os motoristas têm usado cada vez mais o telefone para mandar mensagens, escrevendo com o aparelho próximo às pernas, o que dificulta a ação dos agentes. Porém, para Gouvêa, o principal motivo da queda é o uso do bluetooth, autorizado pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

Fiscalização

Apesar dos vários flagrantes, alguns até de motociclistas com o celular preso ao capacete, para o assessor de comunicação do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BPTran), tenente Nagib Magela, os motoristas estão mais conscientes. Segundo ele, há dois anos as infrações eram “mais frequentes”.

Sobre a falta de fiscalização, o militar preferiu não comentar. Segundo ele, os agentes “têm total condições de perceber os atos de desrespeito”. O tenente cobra conscientização. “Não basta só multar. É preciso senso de coletividade”.

O coordenador da gerência de processamento da Guarda Municipal de BH, Adolpho Carlech, aponta vários fatores para queda nas infrações, como mais responsabilidade dos motoristas, sobretudo os que já foram multados.

Porém, ele admite o uso de tecnologias e as artimanhas dos que insistem em burlar a fiscalização. “A pessoa que fica mexendo com o celular no colo ou tenta se esconder de alguma forma não prejudica apenas o nosso trabalho, mas a segurança de todos”.

Reforço

Enviar mensagens de texto ou acessar as redes sociais pelo celular é mais perigoso que atender uma ligação enquanto dirige, comprovam várias pesquisas. Recentemente, propaganda de uma montadora de carros teve grande repercussão no mundo ao alertar as pessoas em um cinema na China.

O presidente da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (Ammetra), Fábio Nascimento, afirma que o uso do celular ao volante é comum entre todos os motoristas. “Não só os condutores de carros de passeio, mas de ônibus, táxis e caminhões”, diz.

Para ele, a redução das infrações não pode ser comemorada. Ao contrário, o número deve servir de alerta. “Sempre que paramos o carro num sinal percebemos alguém mexendo no celular. Todos sabem que o uso é indiscriminado e frequente. Se houve diminuição, é preciso que as autoridades de trânsito revisem a forma como a fiscalização está sendo feita. Sabemos da impossibilidade de se colocar um fiscal em cada esquina, mas a ação precisa ser reforçada”.

 

Fonte: Hoje em Dia ||

COMPATILHAR: