Não havia como não ser um sucesso. A premissa é um consenso entre vários estudiosos do assunto. Ao ganhar a telinha, a novela brasileira, que completou nesta semana 50 anos, seria imediatamente alçada ao posto de produto de maior visibilidade da televisão no país. Nem a ascensão recente dos realities shows ou a internet conseguem abalar estruturas tão sólidas.
?A novela começou no rádio e já com uma conotação popular. As famílias se reuniam em torno dela. A telenovela surge com influência cubana, inicialmente, com o predomínio do drama. Ela conquistou porque o brasileiro tem o gosto pela oralidade?, analisa Regina Mota, pesquisadora e professora aposentada de comunicação social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
?2-5499 Ocupado?, estrelada por Gloria Menezes e Tarcísio Meira, fez sua estreia na extinta TV Excelsior em 22 de julho de 1963. Durou 42 capítulos e foi uma adaptação de Dulce Santucci para o original do argentino Alberto Migré, com direção de Tito Di Miglio. Para Claudino Mayer, doutor em teledramaturgia pela Universidade de São Paulo (USP), um grande divisor de águas nos primeiros anos da novela no país, porém, foi ?Beto Rockfeller?, de 1968, produzida pela também extinta TV Tupi que mudou os parâmetros da teledramaturgia brasileira. ?Os dramalhões são deixados de lado a partir dali, e começa a ficar mais evidente a linguagem própria do autor, com base na cultura e no comportamento brasileiro?, explica.
Para Claudino Mayer, cada década traz uma importante contribuição que envolve uma série de aspectos. ?A Janete Clair, nos anos 70, mobilizou os telespectadores com ?Irmãos Coragem? (Globo). O público masculino passou a aderir à novela, pois se tratava de um verdadeiro faroeste?, revela o estudioso.
Ainda nessa década, surge a trama que marcaria definitivamente a qualidade desse produto nacional tipo exportação. ?Escrava Isaura? (1976), protagonizada por Lucélia Santos, foi exibida sete vezes na França, cinco na Alemanha e três na Suíça e chegou a países africanos como Congo, Gabão, Gana e Zimbábue.
Para Regina Mota, ironicamente, os anos 70 e 80 foram os que revelaram os mais talentosos autores e suas criações. ?Justamente na época da ditadura militar, escrevendo sob pressão, aparecem nomes como Dias Gomes e Gilberto Braga. Este com um trabalho como ?Vale Tudo??, aponta.
Com um olhar crítico sobre esse tipo de produção, a pesquisadora acredita que a novela brasileira, à parte sua qualidade técnica, pouco evoluiu. ?Ela segue conservadora. Em ?Torre de Babel? (de Sílvio de Abreu, Alcides Nogueira e Bosco Brasil), o shopping explode e mata quem está à margem da sociedade, uma lésbica (Leila, vivida por Silvia Pfeifer) e um drogado (Guilherme, interpretado por Marcelo Antony). Quem faz esses movimentos é a audiência. Nesses 50 anos, ela é um retrato da sociedade?, considera.
Segundo Mayer, os autores bem que tentam quebrar tabus. ?Em ?A Próxima Vítima? (1995) o tema da homossexualidade foi apresentado por meio da relação de Jefferson (Lui Mendes) e Sandro (André Gonçalves). O Silvio de Abreu os apresentou sem estereótipos, como bons filhos, amigos leais, mas houve a rejeição do público (André Gonçalves chegou a apanhar nas ruas)?.
Alternando drama e humor nos anos 2000 e 2010, a novela busca se reinventar, mesclando o time consagrado e a nova geração. ?O João Emanuel Carneiro (?Avenida Brasil?) é um desses destaques. Ele reúne as bases do Silvio de Abreu, Agnaldo Silva e Gilberto Braga a uma sensibilidade e um ritmo vibrante para retratar a sociedade?, conclui Mayer.
Curiosidades
?Ilusões Perdidas? (1965) é considerada a primeira novela global, exibida pela TV Paulista, adquirida por Roberto Marinho.
?O Bem-Amado? (1973) foi a primeira novela brasileira a ser exibida no exterior. A novela de Dias Gomes estreou no México em 1976.
As personagens Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre)se beijam em ?Amor e Revolução?, do SBT, em 12 de maio de 2011.

COMPATILHAR: