O título desta crônica deveria ser “Todas as Saudades”. Mas um de meus livros mais recentes, “Portugal, Minha Saudade”, que reúne crônicas que falam de várias saudades diferentes, inclusive saudades do Brasil em Portugal e saudades de Portugal no Brasil,  também merece este nome. Estou morando agora em Lisboa, então a propósito da tarde de autógrafos desse livro na Feira do Livro da capital portuguesa, reporto-me a ele.

Então, começo mudando o título da crônica e, quem sabe, na segunda edição do meu livro, mudo também o título dele? Ou, pelo menos, adiciono um subtítulo.

E vamos falar de saudades. Quanta saudade cabe em um dia? Ouvi isso, outro dia, em um comercial e fiquei pensando a respeito. Lembrei da nossa pinscher Xuxu, que quando a gente saía, ficava o dia inteiro no portão, sentada perto da grade da garagem, esperando a gente. Podia estar frio, ela podia estar com fome ou com sede, mas não arredava pé. Minha mãe ficava admirada com isso, quando ficava em casa para cuidar dela. Quando a gente chegava, era uma festa só, com latidos, correrias, lambidas, etc.

Dá pra medir a quantidade da saudade que se sente? Tenho saudades de lugares, de coisas que vivi, mas tenho mais saudades de pessoas. E também pergunto: quanta saudade cabe em um dia, em uma semana, em um mês, em um ano, em uma vida?

Tenho saudades da minha filharada, que cresceu e foi embora e deixou uma casa enorme para trás, que insiste em me lembrar que minhas meninas não são mais crianças, que agora têm as próprias casas, tão longe da nossa.

Tenho saudades da nossa primeira filha, Vanessa, que chegou, há muitas primaveras, e logo se foi, tão rápido. Mas dói como se tivesse sido ontem, embora a saudade se acumule há muitos, muitos anos.

Tenho saudades dos meus irmãos, mais dos que já se foram, tenho saudades da minhas avós, dos meus avôs, de amigos queridos que foram conhecer o outro lado da vida ou estão muito longe para que possamos vê-los e abraçá-los.

Tenho saudades de mim, da criança que fui, em tempos idos. Tenho saudades de meus outros eus. Preferia, às vezes, não ter saudades, mas a saudade é a prova maior de que vivemos bons momentos, de que fomos felizes. De maneira que quanto mais saudades temos, tanto mais felizes temos sido ou estamos sendo.

Tenho saudades até de quem nunca conheci pessoalmente, como de Quintana. E agora, mais uma saudade chegando: o neto Rio chegou e, daqui a alguns meses vamos de volta para o Brasil e vamos ficar longe dele. Saudade que vem.

Então que venha a saudade, que sempre cabe mais uma pequena felicidade nas nossas vidas, até uma felicidade bem grande, muito grande, que vai acabar se transformando em uma enorme saudade.

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