Em média, uma hora de trabalho dos trabalhadores pretos e pardos vale 59% da hora do trabalhador branco, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, os negros ganham em média R$10,1 por hora trabalhada. Entre os brancos, esse valor sobe para R$17.
Essa diferença é um pouco menor entre os mais escolarizados: negros com pelo menos o ensino superior ganham R$ 22,7 por hora de trabalho – 69% do rendimento-hora de um trabalhador branco, de R$ 32,8 em média. A menor diferença aparece entre os trabalhadores com nível fundamental completo ou médio incompleto: nessa faixa, negros e pardos recebem 82% do rendimento por hora dos brancos.
“Esse indicador nos aponta para a questão de que a desigualdade no mercado de trabalho não acaba com a igualdade na formação educacional”, enfatizou Claudio Crespo, coordenador de Populações e Indicadores Sociais do IBGE.
Cargos de chefia
A
desigualdade também ocorre nos cargos de chefia. Somente 29,9% dos cargos
gerenciais são exercidos por pretos ou pardos. Negros e pardos representavam
55,8% dos 207 milhões de brasileiros em 2018.
“A
divisão em cinco classes de rendimento do trabalho principal evidencia que,
quanto mais alto o rendimento, menor é a ocorrência de pessoas pretas ou pardas
ocupadas em cargos gerenciais. Na classe de renda mais elevada, somente 11,9%
das pessoas ocupadas com cargos gerenciais eram pretas ou pardas e 85,9%,
brancas. Por outro lado, nos cargos gerenciais de renda mais baixa, havia 45,3%
de pretos ou pardos e 53,2% de brancos”, aponta o instituto.
“Quanto maior e o cargo e mais alto o salário, menor é a presença de pretos e partos”, ressaltou Crespo, do IBGE.
Desocupação e informalidade
O
levantamento do IBGE mostra ainda que, em 2018, pretos e pardos representavam
54,9% da força de trabalho no país (57,7 milhões de pessoas) e os brancos,
43,9% (46,1 milhões). Apesar disso, a população preta ou parda representava
64,2% dos desocupados e 66,1% dos subutilizados.
Além
disso, a taxa de informalidade entre os negros é muito maior que entre os
brancos. Quase metade dos negros (47,3%) trabalham sem carteira assinada ou sem
CNPJ. Esse percentual é de 34,6% entre os brancos.
A
taxa composta de subutilização da população preta e parda (29%) era maior do
que a dos brancos (18,8%). A desigualdade persistia mesmo quando considerado o
recorte por nível de instrução. Entre os que tinham pelo menos o nível
superior, essa taxa era de 15% para os pretos ou pardos e de 11,5% para os
brancos e entre os sem instrução ou com fundamental incompleto: 32,9% e 22,4%,
respectivamente.
Rendimento e moradia
Reflexo
disso é o rendimento bem menor dos negros no final do mês, na comparação com o
brancos, já que o trabalho informal paga menos que o formal. Em média, o
trabalhador negro recebe R$ 1.608 por mês – apenas 57,5% da média do rendimento
do trabalhador branco, de R$2.796 mensais.
A
maior diferença ocorre no grupo de mulheres negras, que recebem 44,4% do
rendimento dos homens brancos no final do mês.
Os
dados do IBGE também revelam a desigualdade nas condições de moradia. Uma
parcela de 44,5% dos negros moram em casas com ausência de pelo menos um
serviço de saneamento básico, como coleta de lixo, abastecimento de água e
esgoto. Essa proporção é de 27,9% entre brancos.
Quase
45% dos pretos e pardos não possui máquina de lavar, contra 21% dos brancos.
“Indício de que a população preta ou parda, em especial as mulheres, tem
maior carga de trabalho doméstico, como a lavagem de roupa, dentre outros
trabalhos não remunerados”, diz o estudo.
Distribuição de rendimentos
Ao
dividir a população segundo classes de rendimento, a pesquisa mostrou que entre
os 10% com os maiores rendimentos, apenas 27,7% eram pretos ou pardos. Em
contrapartida, este grupo representava 75,2% entre os 10% da população com os
menores rendimentos. Além disso, a pesquisa aponta que o rendimento médio
domiciliar per capita da população branca era de R$1.846, quase o dobro que o
de pretos e pardos, que era de R$934.
Considerando as linhas de pobreza estabelecidas pelo Banco Mundial, a pesquisa aponta que a proporção de pretos e pardos foi maior que o dobro da população branca. Entre os pretos e pardos, 32,9% recebiam menos de R$420 por mês (US$5,50 por dia), que é a linha de pobreza, enquanto entre os brancos essa proporção era de 15,4%.
Já
abaixo da linha da pobreza (R$145 por mês ou US$1,90 por dia) estavam 3,6% da
população branca e 8,8% da preta e parda.
“Seja na extrema pobreza ou na linha de pobreza, a presença de pretos e pardos é mais significativa que a da população branca. Então, a vulnerabilidade dessa população também está expressa nessa análise”, destacou Crespo.
Fonte: G1 ||