Os resultados parciais das eleições europeias divulgados na noite desse domingo (26) apontam que o Parlamento Europeu ficará mais fragmentado nos próximos cinco anos. Os partidos mais tradicionais devem perder espaço para siglas nacionalistas, liberais e verdes.

Segundo o portal G1, eleitores dos 28 países da União Europeia participaram da votação, que começou na quinta-feira. O bloco estima uma taxa de comparecimento superior a 50% – a maior em 20 anos. Diferentemente dos pleitos nacionais, as eleições europeias costumam ter baixa participação.

Segundo as estimativas oficiais, as tradicionais alianças de centro-direita e centro-esquerda continuarão com os maiores números de cadeiras. No entanto, pela primeira vez na história, o total de assentos conquistados por esses partidos não chegará à metade do Parlamento.

Os partidos “eurocéticos” e conservadores nacionalistas conseguiram melhorar o desempenho. Fragmentados em três alianças, eles podem se tornar a segunda força do Parlamento caso todos os parlamentares dessa linha ideológica passem a votar em bloco.

Porém, os liberais pró-europeus obtiveram vitórias importantes e devem se aliar aos partidos mais tradicionais em algumas questões. Além deles, os partidos verdes surpreenderam em alguns países como a Alemanha e devem fazer frente aos nacionalistas – que costumam ser céticos em relação ao papel da União Europeia quanto à questão ambiental.

Ainda assim, a dianteira se manteve com o Partido Popular Europeu (PPE), aliança europeia de legendas de centro-direita. Após os resultados das pesquisas de boca de urna, a liderança do grupo reivindicou a Presidência da Comissão Europeia para o cabeça de chapa, o alemão Manfred Weber.

Como os países votaram?

Alemanha

O CDU, partido da chanceler Angela Merkel, conseguiu o maior número de votos, mas perderá cadeiras em relação a eleições anteriores. A legenda ficou a oito pontos percentuais da aliança ecologista, que elegeu cerca de um quinto dos parlamentares alemães.

O Alternativa para Alemanha, de orientação nacionalista, manteve os 10% dos votos que costuma obter nas eleições locais. Ficou atrás do SPD, o tradicional partido social-democrata alemão.

França

Derrotada na eleição presidencial de 2017, Marine Le Pen conseguiu manter o partido nacionalista Reunião Nacional com o maior número de cadeiras francesas no Parlamento Europeu. A opositora considerou a votação um embate direto contra o presidente Emmanuel Macron, sobretudo após as marchas dos “coletes amarelos”.

 

Entretanto, a coalizão liberal liderada por Macron ficou muito pouco atrás do grupo de Le Pen. Com isso, a ALDE – aliança dos partidos liberais no Parlamento Europeu – deve se firmar como nova força no lado pró-europeu.

Os ecologistas liberais também surpreenderam e devem ficar com 13% dos votos. É um resultado superior ao dos Republicanos e do Partido Socialista – os dois maiores partidos da França que perderam terreno a partir de 2017, ano da eleição de Macron.

Reino Unido

As projeções indicaram que o Partido do Brexit, de Nigel Farage, levou o maior número de assentos do Parlamento Britânico. Em segundo lugar, ficaram os Liberais Democratas. Ou seja: nem o Partido Trabalhista, nem o Conservador – maiores e tradicionais legendas britânicas – ficaram nas primeiras colocações.

Inclusive, o Partido Conservador, que controla o governo britânico, foi apenas o quinto mais votado e só vai levar quatro dos 73 assentos britânicos no Parlamento Europeu. É mais uma derrota para a primeira-ministra Theresa May, que pediu renúncia após o fracasso nas negociações do acordo sobre o Brexit.

O resultado indica que boa parte do eleitorado britânico prefere o chamado “Brexit duro” – sem acordo com a União Europeia. Na tentativa de evitá-lo, o governo de May conseguiu adiar a saída definitiva do bloco para, no máximo, outubro.

Com o adiamento, o Reino Unido foi obrigado a participar das eleições europeias. Quando o Brexit finalmente ocorrer, as 73 cadeiras britânicas no Parlamento Europeu serão extintas e realocadas.

Áustria

Na Áustria, os partidos pró-União Europeia mantiveram vantagem. Entre eles, ÖVP, do primeiro-ministro Sebastian Kurz.

O resultado mostra que o premiê conseguiu se desvencilhar do escândalo envolvendo negociações de uma herdeira russa com um integrante do partido nacionalista FPÖ – que, antes, fazia parte da coalizão de Kurz. Após o escândalo vir à tona, na semana passada, o premiê rompeu com a legenda “eurocética”.

Espanha

A Espanha votou de maneira semelhante às eleições gerais internas ocorridas há um mês. O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do atual primeiro-ministro, Pedro Sánchez, levará mais cadeiras. Em seguida, o Partido Popular, de orientação conservadora moderada.

Assim como há um mês, os espanhóis fragmentaram o voto entre parlamentares liberais (Ciudadanos), esquerdistas (Unidas Podemos) e nacionalistas (Vox). Chama a atenção a grande margem de votação dos partidos independentistas catalães – quase todos integrantes das coalizões de esquerda.

 

Holanda

Apesar de os trabalhistas terem conseguido o maior número de votos, os liberais provavelmente levarão mais parlamentares graças às alianças entre os partidos da Holanda. Os “eurocéticos” moderados também conseguiram resultado expressivo.

Hungria

A coalizão liderada pelo primeiro-ministro da Hungria, Viktor Órban, venceu com folga as eleições ao Parlamento Europeu. Atualmente inscrito na aliança de centro-direita, há a possibilidade de os deputados partidários de Órban migrarem para algum dos grupos nacionalistas mais em linha com as políticas do governo húngaro.

Itália

Os italianos vão eleger, na maioria, parlamentares considerados “eurocéticos”. A Liga, partido encabeçado pelo ministro do Interior Matteo Salvini, e o Movimento Cinco Estrelas levarão, juntos, mais da metade das cadeiras – mas dentro de coalizões diferentes.

Das legendas tradicionais da Itália, o Partido Democrático obteve o melhor desempenho e ficou na segunda colocação, depois de campanha baseada na defesa da União Europeia.

Polônia

A votação para o Parlamento Europeu na Polônia se transformou em um embate entre nacionalistas e grupos pró-União Europeia. O PiS, partido nacionalista conservador, deve levar o maior número de assentos, mas a coalizão centrista de oposição ficou pouco atrás.

Portugal

Diferentemente dos outros países, Portugal continuará com a maioria dos parlamentares europeus nos maiores partidos tradicionais de centro-esquerda e centro-direita. Os portugueses não devem eleger nenhum nacionalista. Por outro lado, o Bloco de Esquerda se firmou como terceira força política do país.

Também votaram Bélgica, Bulgária, Croácia, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Finlândia, Grécia, Irlanda, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, República Tcheca, Romênia e Suécia.

Quais são os grupos de partidos?

Trata-se de uma eleição internacional: além dos interesses em comum da União Europeia, os eleitores votam de acordo com as pautas de seus respectivos países. Por isso, partidos e políticos de linha programática semelhante se aliam em grupos dentro do Parlamento Europeu. Conheça os oito maiores:

 

EPP – Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos)

A aliança reúne os mais tradicionais partidos de orientação liberal-conservadora da Europa, como o CDU da chanceler da Alemanha, Angela Merkel.

 

S&D – Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu

A coalizão integra os maiores partidos de orientação social-democrata dos países da Europa. Legendas como o PSOE, da Espanha, e o Partido Trabalhista, do Reino Unido, fazem parte do grupo.

 

ALDE – Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa

Integra os partidos e políticos liberais europeus favoráveis à União Europeia. O República Em Marcha, de Emmanuel Macron, é um deles, assim como o Ciudadanos, nova força eleitoral da Espanha.

 

ECR – Conservadores e Reformistas Europeus

É o maior e menos radical dos grupos considerados “eurocéticos”. Abriga o Partido Conservador britânico, o mesmo de Theresa May, enquanto também integra siglas nacionalistas como o Lei e Justiça, da Polônia, e o Partido dos Finlandeses.

 

ENF – Europa das Nações e da Liberdade

O grupo alia dois dos maiores partidos nacionalistas e conservadores da Europa: o Reunião Nacional, da França, e o Liga, do ministro do Interior italiano, Matteo Salvini. Projeções indicam que a aliança chegará perto de dobrar o número de cadeiras e se tornar uma nova força do Parlamento Europeu.

 

EFDD – Europa da Liberdade e da Democracia Direta

É o mais cético em relação à União Europeia entre as alianças nacionalistas. O estatuto do grupo se posiciona contra o Euro como moeda única e advoga por formas de democracia direta paralelas ao bloco.

 

Greens/EFA – Verdes/Aliança Livre Europeia

Aliança entre os partidos e políticos ambientalistas e liberais da União Europeia. Projeções indicam que vão ganhar bom número de cadeiras em relação às legislaturas antigas, sobretudo após recentes manifestações contra as mudanças climáticas.

 

GUE/NGL – Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde

Além dos partidos comunistas da França e de Portugal, a aliança tem o Syriza, sigla esquerdista majoritária na Grécia. Apesar de manter posições bastante céticas quanto ao sucesso da União Europeia, os partidários se colocam como oposição dos nacionalistas.

 

 

Fonte: G1||

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