Você costuma ficar horas além da jornada na empresa, fala sobre o seu trabalho o tempo todo, mesmo nos dias de folga e em momentos de lazer, tem sintomas como dor de cabeça, insônia, perda de memória, ansiedade, depressão, irritabilidade e sensação de falta de energia? Esses podem ser indícios de que você está trabalhando demais.
E especialistas alertam: somente se dedicar ao trabalho e não cuidar dos relacionamentos com a família e amigos e com o desenvolvimento pessoal pode levar à baixa produtividade no trabalho, exaustão e ao adoecimento. E a solução, segundo eles, não é necessariamente mudar de emprego, mas reavaliar prioridades e estabelecer metas diárias que possam ser cumpridas dentro do horário de expediente. Além disso, ter uma conversa franca com a chefia também pode ajudar a reverter o quadro.
De acordo com o médico Alberto Ogata, presidente Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), muitas vezes o funcionário percebe que tem que trabalhar muitas horas, com prazos curtos e tem a percepção de que está sempre com tensão e sob pressão. ?Não tem tempo para se encontrar com os amigos, praticar atividade física, ter refeições nos horários corretos ou mesmo ir ao médico para uma avaliação anual?, diz.
O médico diz que os sintomas mais comuns do excesso de trabalho são dores de cabeça, cansaço, dor nas costas e na nuca, insônia, perda de memória, hipertensão, ansiedade, depressão, irritabilidade e sensação de falta de energia.
Para Glaucia Santos, consultora de recursos humanos da Catho Online, o primeiro indício de que o profissional está trabalhando demais e o mais fácil de ser identificado é dado pelo tempo que o profissional permanece dentro da empresa. ?Não é difícil encontrar profissionais que ficam de 3 a 5 horas além de seus horários nas empresas para dar conta de suas atividades. Além disso, é comum que a pessoa fale sobre o seu trabalho o tempo todo, mesmo aos finais de semana ou em momentos de lazer?, diz.
Ela diz que numa situação como essa é necessário ser franco com a chefia, informando o volume de atividades e o tempo gasto para a realização de cada uma delas. ?Essas informações são essenciais para que o gestor verifique a necessidade de contratar outros colaboradores ou mesmo redistribuir as atividades entre os membros da equipe?, diz.
Organização
Para Cleo Wolff, consultora da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), o primeiro sintoma do excesso de trabalho é o cansaço do ponto de vista físico e a desmotivação do ponto de vista psicológico. ?O foco que antes tínhamos em relação às nossas metas se torna mais difuso, e as decisões passam a ser mais difíceis?, explica.
Cleo diz que o funcionário deve ter consciência de que não suportar a carga horária não é sinônimo de incompetência profissional. Por isso, não deve pensar que precisa mudar de emprego, e sim refazer seu cronograma de trabalho.
?Naturalmente, há momentos em que se exige maior dedicação, inclusive de tempo, por exemplo, para a conclusão de projetos especiais, mas isso não deve se transformar em uma rotina. Muitas vezes, a solução está no planejamento e organização do trabalho e o estabelecimento de prioridades?, diz Ogata.
O médico, autor do livro ?Guia Prático de Qualidade de Vida?, diz que a busca da qualidade de vida envolve o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. ?As pessoas devem ter tempo para si mesmas e isso deve ocupar um espaço na agenda e não ser relegado a um horário livre?, afirma.
Se na década de 90 houve um aumento na ocorrência das chamadas lesões por esforços repetitivos, segundo Ogata, o fortalecimento da área de serviços, a disseminação do ?teletrabalho? (trabalho à distância) e do horário flexível e o uso intensivo da tecnologia da informação criaram uma nova realidade no mundo do trabalho.
?O excesso de demanda, a falta de autonomia e de controle, as novas exigências e sensação de insegurança no emprego fizeram com que os aspectos emocionais, como estresse, depressão e ansiedade se tornassem os principais fatores relacionados ao adoecimento dos trabalhadores?, diz o médico.
Questionado se o excesso de trabalho pode matar, ele afirma que, a longo prazo, o estresse crônico pode ser um dos fatores que levam a doenças cardiovasculares (infarto e derrame cerebral), diabete, problemas gastrointestinais e alguns tipos de câncer. ?Frequentemente, as pessoas com nível elevado de estresse estão mais sujeitas a acidentes, casos de violência, depressão grave, síndrome do pânico e até suicídio?, afirma.
Segundo ele, houve casos de suicídio entre trabalhadores associados ao estresse de produzir mais, com mais qualidade e custos mais baixos.

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