Você é o que você (não) come

Distúrbios alimentares ? como a anorexia ? são responsáveis pelos maiores índices de mortalidade entre todos os tipos de transtornos mentais

Flávia Khouri

O mundo hoje exige muito das mulheres que queiram ter o ?corpo ideal?. As modelos e atrizes exibem seus corpos perfeitos nas passarelas. A mídia mostra muito o glamour, mas nem sempre mostra a vida regrada e disciplinada que essas mulheres têm, fazendo com que algumas jovens se enveredem por caminhos perigosos, como dietas absurdas, exercícios exagerados, culminando nos temidos distúrbios alimentares.
Os distúrbios alimentares são responsáveis pelos maiores índices de mortalidade entre todos os tipos de transtornos mentais, ocasionando a morte em mais de 10% dos pacientes.
Os transtornos alimentares são síndromes complexas nas quais as interações entre fatores ambientais, psicológicos e fisiológicos criam e mantêm o comportamento alimentar perturbado. Esses distúrbios diretamente relacionados com o lado psicológico têm de um lado os pacientes com anorexia nervosa perdendo peso exageradamente, e de outro lado pacientes com bulimia nervosa que ingerem energia em excesso.

Anorexia nervosa
É muito bom redescobrir as formas do corpo à medida que o ponteiro da balança começa a descer, mas tem gente que, mesmo sem nunca ter sido gordo, alimenta um desejo obsessivo de ficar magro.
O problema é que essas pessoas não ficam apenas na vontade de emagrecer. Elas desenvolvem um tipo de rejeição à comida que as faz perder o controle. Isso é a anorexia nervosa, uma disfunção que pode aparecer sozinha ou em parceria com a bulimia (compulsão pela comida, seguida de culpa que faz a pessoa utilizar métodos de expulsão do que comeu de seu corpo).
A rejeição à comida (anorexia, com incidência de 1%) é classificada como um transtorno alimentar e suas vítimas são quase sempre (95% dos casos) mulheres jovens, de 15 a 20 anos, excessivamente preocupadas com a aparência e mais sensíveis às influências dos padrões de beleza em vigor para firmar sua personalidade. A doença também ataca mulheres na faixa dos 30 e raramente as acima dos 40. Porém não quer dizer que a adolescente que adora estar na moda esteja sujeita a manifestar o problema.
Um dos primeiros sintomas é a perda da noção que a pessoa tem da sua imagem corporal. Mesmo magra ela se vê gorda, acredita que precisa emagrecer ainda mais, e que o melhor jeito é parar de comer. Normalmente essas mulheres não acreditam que este medo de engordar possa ser sinal de alguma disfunção. A prática mostra que uma das partes mais difíceis do atendimento para tratar a anorexia nervosa é convencer a pessoa de que ela está doente.
Normalmente, essas pessoas só são levadas à tratamento quando a anorexia já está em nível elevado, ou seja, quando os sinais já são perceptíveis, quando o emagrecimento já é exagerado, aí é que os parentes (pois a pessoa não se vê tão magra) ou amigos próximos percebem que já ultrapassou o limite do normal.
A família sempre deve insistir no tratamento mesmo que a doente queira parar. O atendimento especializado é a única saída para controlar o problema antes que o corpo exija atendimento médico por causa de uma emergência.

Sem tratamentos, a anorexia nervosa:
* Desgasta emocionalmente.
* Debilita os órgãos.
* Provoca distúrbios associados à desnutrição.
* Lesa o aparelho digestivo quando há vômitos constantes.
* Provoca arritmias cardíacas.
Nas adolescentes, os principais sinais da anorexia são o enfraquecimento, a perda de peso visível e a ausência de menstruação.

Tratamento
* Reidratar o organismo, recomeçando a alimentação à base de soros e líquidos (o estômago reduzido por não comer a tempos não suporta alimentos sólidos).
* Introduzir gradualmente alimentos pastosos até chegar aos sólidos.
* A pessoa também vai precisar reaprender a conviver com os outros durante as refeições, entrar em supermercados, fazer compras, ir a festas, participar dos almoços com a família, enfim, voltar a lidar com o lado social da comida.
Quanto à imposição, ela só é feita em casos que já estão muito graves, com perigo de morte (arritmia cardíaca, vômitos espontâneos). Para os demais casos ela deixou de ser recomendada porque tira o paciente da vida social, o que dificulta ainda mais a sua readaptação.
A psicoterapia é muito importante para a eficácia do tratamento. Através dela a pessoa vai alterar os hábitos adquiridos e voltou a comer.
É recomendado também que a família do paciente participe de sessões de terapia familiar em grupo para auxiliar a paciente em seu ambiente.

Sintomas
* Preocupação excessiva com a alimentação. A pessoa passa a maior parte do tempo pensando no medo de engordar.
* Sensação intensa de culpa e uma ansiedade desproporcional por eventualmente ter saído um pouco da dieta.
* As pessoas dizem que você está muito magra, suas roupas estão cada vez mais largas, mas você não se acha magra e ainda quer perder peso.
* Menstruação irregular, ou não existente.

Bulimia nervosa
Pessoas com bulimia nervosa ingerem grandes quantidades de alimentos e depois eliminam o excesso de calorias através de jejuns prolongados, vômitos auto-induzidos, laxantes, diuréticos ou na prática exagerada e obsessiva de exercícios físicos.
Devido ao comer compulsivo seguido de eliminação em segredo, e ao fato de manterem seu peso normal ou com pouca variação deste, essas pessoas conseguem muitas vezes esconder seu problema das outras pessoas por anos.
Assim como a anorexia, a bulimia caracteristicamente se inicia na adolescência. A doença ocorre mais freqüentemente em mulheres, mas também atinge os homens.
Indivíduos com bulimia nervosa, mesmo aqueles com peso normal, podem prejudicar gravemente seu organismo com o hábito freqüente de comerem compulsivamente e se desintoxicarem em seguida.

Sintomas comuns da bulimia
* Interrupção da menstruação.
* Interesse exagerado por alimentos e desenvolvimento de estranhos rituais alimentares.
* Comer em segredo.
* Obsessão por exercício físico.
* Depressão.
* Ingestão compulsiva e exagerada de alimentos.
* Vômitos ou uso de drogas para indução de vômito, evacuação ou diurese.
* Alimentação excessiva sem nítido ganho de peso.
* Longos períodos de tempo no banheiro para induzir o vômito.
* Abuso de drogas e álcool.

Personalidade: pessoas que desenvolvem bulimia quase sempre consomem enormes quantidades de alimentos, geralmente sem valor nutritivo, para diminuir o estresse e aliviar a ansiedade. Entretanto, com a extravagância alimentar, surgem a culpa e depressão.
Pessoas com profissões ou atividades que valorizam a magreza, como modelos, bailarinos e atletas, são mais suscetíveis ao problema.

Tratamento: Quanto mais cedo for diagnosticado o problema, melhor. Quanto mais tempo persistir o comportamento alimentar anormal, mais difícil será superar o distúrbio e seus efeitos no organismo.
O apoio e incentivo da família e dos amigos podem desempenhar importante papel no êxito do tratamento. O ideal de tratamento é que a equipe envolva uma variedade de especialistas: um clínico, um nutricionista, um psiquiatra e um terapeuta individual, de grupo ou familiar.

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